Sem isolamento, mortes no Brasil podem chegar a mais de 1 milhão, diz instituto britânico

31/03/20 10:00

Um estudo produzido pelo Imperial College de Londres fez uma estimativa de como os diferentes países do mundo seriam afetados pela pandemia do coronavírus. Ao todo, os cenários de 202 países foram analisados. A conclusão foi que, se os governos adotarem medidas rigorosas cedo, como testes de diagnóstico, isolamento de doentes e distanciamento social para frear a disseminação do vírus, 38,6 milhões vidas podem ser salvas, o que representa uma redução da taxa de mortalidade em cerca de 95%.

No Brasil, aponta a pesquisa, o número de mortes decorrentes da pandemia pode ser de mais de 1,15 milhão, no caso de nenhuma estratégia de isolamento ou de enfrentamento ser adotada; ou pode ser reduzido para 45 mil, caso sejam adotadas estratégias de supressão rígidas para toda a população, que são aquelas que buscam bloquear a circulação do vírus.

No começo da pandemia, o governo do Reino Unido havia decidido apostar em uma estratégia de “imunidade de massa”, que consistia em não tomar medidas restritivas; em vez de parar o país, deixariam que o vírus infectasse a população de modo que rapidamente as pessoas pudessem ficar imunizadas.

Porém, o governo do Reino Unido desistiu dessa ideia quando uma equipe de especialistas epidemiológicos do Imperial College of London apresentou uma previsão de como se desenrolaria a disseminação do COVID-19 em diferentes cenários de contenção para o Reino Unido e para os Estados Unidos. Para elaborar essa previsão, utilizaram dados de contágio, estatísticas de hospitalização e óbitos vistos em outros países, estudaram como o vírus se dissemina em diferentes ambientes etc..

Como um breve resumo: se circular livremente, o vírus tem a capacidade de infectar cerca de 80% da população geral em um período muito curto. Das pessoas infectadas, cerca de 20% precisam de hospitalização, 5% dos casos são críticos e precisam de UTI e suporte respiratório, e cerca de metade dos casos críticos vêm a óbito.

No entanto, o súbito aumento de casos ultrapassa a capacidade do sistema de saúde, gerando colapso, e disso resulta um número muito maior de mortes — de covid-19, assim como de outras causas — simplesmente porque não há hospital para tratar todas as pessoas que precisam. Segundo a previsão, se não houver restrições nos contatos, no mundo inteiro seriam 7 bilhões de pessoas infectadas com covid-19 e 40 milhões de mortes neste ano.

Os números previstos por esses estudos fizeram com que governos desistissem das posturas mais relaxadas e tomassem as medidas mais restritivas para evitar o colapso do sistema de saúde e um número muito maior de mortes.

No último dia 26, o Imperial College of London soltou números previstos para os desfechos da pandemia em todos os países, nos cenários sem intervenção, com mitigação, e com supressão. Mitigação envolve proteger os idosos (reduzir 60% dos contatos) e restringir apenas 40% dos contatos do restante da população. Supressão envolve testar e isolar os casos positivos, e estabelecer distanciamento social para toda a população. Supressão precoce é implementada em uma fase em que há 0,2 mortes por 100.000 habitantes por semana e mantida. Supressão tardia é implementada quando há 1,6 mortes por 100.000 habitantes por semana e mantida.

Os próprios autores do estudo comentam que modelaram essas curvas com base nos padrões de dispersão dos países ricos e que nos países pobres os resultados da pandemia podem ser piores do que o previsto. Esses números previstos não levam em conta a existência de favelas, comunidades sem abastecimento de água e/ou saneamento, entre outros complicadores que temos no Brasil. (Texto: Felipe Araújo, com material do Conselho Nacional de Enfermagem / Foto: Agência Brasil)

Cenários para o Brasil

Cenário 1 Sem medidas de mitigação:

População total: 212.559.409

População infectada: 187.799.806

Mortes: 1.152.283

Indivíduos necessitando hospitalização: 6.206.514

Indivíduos necessitando UTI: 1.527.536


Cenário 2 Com distanciamento social de toda a população:

População infectada: 122.025.818

Mortes: 627.047

Indivíduos necessitando hospitalização: 3.496.359

Indivíduos necessitando UTI: 831.381


Cenário 3 Com distanciamento social E REFORÇO do distanciamento dos idosos:

População infectada: 120.836.850

Mortes: 529.779

Indivíduos necessitando hospitalização: 3.222.096

Indivíduos necessitando UTI: 702.497


Cenário 4 Com supressão tardia

População infectada: 49.599.016

Mortes: 206.087

Indivíduos necessitando hospitalização: 1.182.457

Indivíduos necessitando UTI: 460.361

Demanda por hospitalização no pico da pandemia: 460.361

Demanda por leitos de UTI no pico da pandemia: 97.044


Cenário 5 Com supressão precoce

População infectada: 11.457.197

Mortes: 44.212

Indivíduos necessitando hospitalização: 250.182

Indivíduos necessitando UTI: 57.423

Demanda por hospitalização no pico da pandemia: 72.398

Demanda por leitos de UTI no pico da pandemia: 15.432

Saiba mais:

[+] Os diversos relatórios estão disponíveis no site do Imperial College of London

[+] Link para o trabalho “The Global Impact of COVID-19 and Strategies for Mitigation and Suppression”

[+] As tabelas com os números oferecidos constam no apêndice