Artistas lançam carta em repúdio aos ataques do Sindicato dos Médicos

10/04/20 10:26

Artistas e entidades ligadas à área da cultura lançaram nessa quinta-feira (9) uma carta aberta à sociedade cearense em que condenam os ataques promovidos pelo Sindicato dos Médicos contra o edital “Festival Cultura DendiCasa: Arte de Casa para o Mundo”, lançado pela Secretaria de Cultura do Estado (SECULT). O edital contempla investimentos de R$ 1 milhão, oriundos do Fundo Estadual de Cultura (FEC), e vai selecionar 400 projetos com conteúdos artísticos, para compor uma programação especial de difusão em plataformas digitais, das mais variadas linguagens artísticas.

O objetivo do edital é movimentar a economia artística, criativa e cultural, no contexto do enfrentamento ao Coronavírus no Ceará. Segundo o deputado estadual Renato Roseno (PSOL), que assina a carta, o edital não se trata de recurso orçamentário novo. “O Fundo Estadual de Cultura já tem sua própria previsão. O que estamos autorizando é que, dentro do fundo, seja realizado um edital específico”, explica o parlamentar, que, mesmo fazendo oposição ao governador Camilo Santana, votou, no último dia 27, favoravelmente à mensagem 8499/2020, de autoria do governo estadual, que trata da situação dos trabalhadores e trabalhadoras da cultura.

De acordo com a carta, as pessoas que comandam o Sindicato dos Médicos do Ceará querem apenas jogar para uma pequena e triste plateia ultraconservadora, pois sabem que o Edital não possui vícios. "É fruto da sensibilidade do Poder Público e da mobilização da sociedade civil. É feito com recursos que já estavam destinados à política cultural, sem influir em nenhum momento em recursos destinados para a área da saúde. É apenas uma das ações necessárias para socorro emergencial a centenas de milhares de trabalhadores e trabalhadoras cearenses, neste momento de extremo desafio à sobrevivência, à vida de cada dia", dizem os artistas signatários. Cada artista selecionado receberá um recurso no valor de R$ 2.500,00.

“Ninguém sabia no ano passado que haveria a pandemia, com fechamentos de bares, restaurantes e equipamentos culturais. É necessário realizar essa previsão, para permitir a realização desse edital de forma excepcional”, defende Renato. De acordo com o parlamentar, essa iniciativa tem um valor social imenso e os beneficiados não são apenas os trabalhadores da cultura, mas toda a sociedade cearense. “Sobretudo num momento como esse, de muita aflição, é importante nós termos aqui também variadas formas de cultura e de arte, formas de ativar o sensível”, afirma.

Para Renato, toda política cultural que busca ampliar a participação da economia da cultura na economia do Ceará merece apoio. "Devemos defender todas as categorias. Seria falacioso colocar uma categoria a contra a categoria b. Todas as categorias merecem uma renda básica universal. Nesse caso, não estamos nem tratando de transferência de renda, estamos aprovando um edital. Ou seja, os artistas vão trabalhar de forma virtual e serão remunerados por suas apresentações”, defende o deputado, que tem cobrado do governador e da Secretaria de Planejamento o pagamento dos editais e cachês já vencidos. (Texto: Felipe Araújo / Foto: Divulgação)

CARTA ABERTA À SOCIEDADE CEARENSE

Sindicato dos Médicos do Ceará, respeite a verdade!

Respeite os trabalhadores e as trabalhadoras da Cultura! Respeite a inteligência do povo cearense! Respeite a vida!

Os trabalhadores e as trabalhadores da Cultura, atuantes no Estado do Ceará, repudiam os covardes ataques desferidos pelo Sindicato dos Médicos do Ceará a centenas de milhares de trabalhadores do setor cultural, bem como a toda a sociedade cearense e brasileira, cujos direitos culturais são protegidos pela Constituição.

Em pleno momento de pandemia, alguns médicos cearenses, que se prestaram nos últimos anos a práticas como apoiar políticos que defendem a morte, a tortura e as armas, apoiar um golpe contra a democracia e o povo brasileiro, apoiar o congelamento de recursos federais para a saúde por 20 anos (com enormes consequências neste momento) e hostilizar colegas médicos de outros países que vieram atuar nas regiões do Brasil em que faltam médicos brasileiros, tentam agora hostilizar trabalhadores da cultura.

Promovem um ataque sórdido, irresponsável, em tudo equivocado, que só demonstra a capacidade de leitura enviesada da realidade, de forma egoísta e reprovável, por parte de pessoas que tiveram acesso à educação superior e deveriam ser capazes de atitude mais honesta e respeitosa com a sociedade.

Neste momento de pandemia, os trabalhadores da cultura, responsáveis por parte expressiva do Produto Interno Bruto brasileiro, foram os primeiros a ter suas atividades atingidas pelas consequências da necessidade de distanciamento social. Serão, provavelmente, juntamente a outros profissionais que dependem de eventos, os últimos a ter condições de retomar plenamente suas atividades.

Os que estão sendo desrespeitados pelo Sindicato dos Médicos do Ceará, neste momento, se contam à casa das centenas de milhares. São artistas, produtores, técnicos, trabalhadores da cultura em geral, integrantes de diversas categorias profissionais e prestadores de serviços de várias atividades da economia da cultura, da arte, do entretenimento, do turismo, de todos os 184 municípios cearenses.

São trabalhadores de diversas linguagens e expressões artísticas e culturais, como shows musicais, leituras de textos teatrais, declamação de poesia, contação de histórias, manipulação de bonecos, espetáculos de dança, obras audiovisuais, artes visuais, shows de humor, artes circenses, artes de rua, slams, saraus, manifestações da cultura popular tradicional, memórias das comunidades de Fortaleza, obras literárias, "estátuas vivas", Mestres da Cultura, entre vários e vários outros.

Trata-se de uma enorme cadeia de trabalhadores e trabalhadoras, de diversas atividades. Pais e mães de família, que dependem de seu trabalho de cada dia para levar o sustento a seus filhos, netos, avôs, avós. Todos atingidos diretamente pelos efeitos desta pandemia, em uma realidade que despertou um forte movimento de solidariedade, em todo o Ceará e em todo o Brasil, com várias ações de apoio neste momento tão difícil. Da arrecadação e distribuição de cestas básicas a apoio para evitar despejos, cortes de água e energia, entre outras necessidades básicas, aparentemente distantes do mundo privilegiado de quem assina os ataques publicados pelo Sindicato dos Médicos do Ceará, diante de postura tão elitista, mentirosa, reprovável e de má-fé quanto a que vem sendo expressa em vídeos e textos publicados pela entidade.

A classe cultural faz parte de programas de apoio a pacientes internos em hospitais e de inúmeras terapias de restabelecimento de pessoas acometidas por enfermidades. A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afecções e enfermidades”. Direito social, inerente à condição de cidadania, que deve ser assegurado sem distinção de raça, de religião, ideologia política ou condição socioeconômica, a saúde é assim apresentada como um valor coletivo, um bem de todos, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Agora, com grande parte da população felizmente em casa, em quarentena, enfatiza-se ainda mais a importância desses trabalhadores da cultura, responsáveis pelas músicas, pelos filmes e pelas séries, entre várias outras obras realizadas por produtores, escritores, atores, cenógrafos, figurinistas etc.

Os que comandam o Sindicato dos Médicos do Ceará e promovem esse ataque deprimente e injustificado, sem outro propósito que não o de jogar para uma pequena e triste plateia ultraconservadora, sabem que o Edital Cultura Dendicasa, lançado pela Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, não tem nada de errado. É fruto da sensibilidade do Poder Público e da mobilização da sociedade civil. É feito com recursos que já estavam destinados à política cultural, sem influir em nenhum momento em recursos destinados para a área da saúde. É apenas uma das ações necessárias para socorro emergencial a centenas de milhares de trabalhadores e trabalhadoras cearenses, neste momento de extremo desafio à sobrevivência, à vida de cada dia.

Atacar o edital, procurando estigmatizar os trabalhadores e as trabalhadoras da cultura e, ainda mais irresponsavelmente, tentando jogar contra eles parte das pessoas infelizmente embaladas pelo discurso de guerrilha cultural e "fake news" fomentado diariamente por alguns no Brasil, é atacar o próprio povo cearense. É atacar, por exemplo, o direito dos trabalhadores e das trabalhadoras de todo o País ao auxílio emergencial de R$ 600,00. É atacar o direito ao saque de R$ 1.045,00 do FGTS. É atacar o auxílio às grandes, pequenas e microempresas. É atacar o direito de as pessoas continuarem terem meios para sobreviver, em suas necessidades mais básicas, como alimentação, remédios, moradia. É, acima de tudo, atacar a dignidade da população.

É ainda um ataque à inteligência, ao espírito solidário e à união com que o povo cearense vem enfrentando este momento tão difícil. Infelizmente, não se viu manifestação do Sindicato dos Médicos do Ceará quando os recursos federais para a saúde foram congelados por 20 anos, trazendo consequências desumanas para a população, desde muito antes da atual pandemia. A entidade tenta, sem sucesso, se promover por meio desse ataque a trabalhadores e trabalhadoras da cultura. A irmãos e irmãs cearenses. Um erro que a história não perdoará.

A dificuldade de garantir a quantidade necessária de materiais específicos para o combate/tratamento à Covid-19, inclusive nos hospitais públicos, não depende, neste momento, de dinheiro, que o Governo do Estado vem, sim, garantindo, plenamente, para essa finalidade. A dificuldade é a escassez de material disponível para compra no mercado internacional, principalmente na China, dada a alta demanda em todo o mundo. No caso do Brasil ainda há o agravante de insultos e ataques feitos por integrantes do governo à China. A classe artística reconhece o trabalho dos médicos neste momento e entende a necessidade de garantir as melhores condições para o trabalho deles, mas isso não depende do dinheiro deste edital. Essa é uma falsa dicotomia, em que alguns insistem, como ressaltamos, agindo com explícita má-fé.

Parabéns, governador Camilo Santana e toda a equipe do governo, por tomar as medidas corretas para a preservação da saúde e de todos os direitos dos cearenses, sem ceder a pressão de A ou B. Parabéns, secretário Fabiano dos Santos Piúba e toda a equipe da Secult, pelo lançamento do Edital Cultura Dendicasa e por todas as ações em apoio aos trabalhadores e trabalhadoras da cultura. Parabéns aos cearenses, por não se deixar enganar por ataques desse naipe. Que os médicos e as médicas cearenses possam, o mais breve, contar com uma entidade que se abstenha de ações covardes e desqualificadas como esta, voltando-se, isto sim, para o cuidado e o respeito a todo o povo do Ceará.

Gabinete de Crise da Cultura/Trabalhadores e Trabalhadoras da Cultura do Ceará Gabinete de Crise da Cultura/Trabalhadores e Trabalhadoras da Cultura do Cariri Fórum de Produtores Culturais do Estado do Ceará Rede de Empreendedores Culturais Fórum de Teatro do Ceará / Todo Teatro É Político APTECE - Associação dos Produtores Teatrais do Ceará Associação Cultural Cearense do Rock Sindicato dos Músicos Profissionais do Estado do Ceará - Sindimuce I-Foto - Instituto da Fotografia Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado do Ceará - SATED-CE Associação das Academias de Dança do Estado do Ceará Associação dos Humoristas Cearenses - ASSO-H Sindicato dos Humoristas do Estado do Ceará Associação de Proprietários de Escolas de Circo do Ceará Associação CircoLAR A Casa é Sua - Casa de Produção Associação Cultural Canoa Criança Deputado estadual Renato Roseno (PSOL) Outros trabalhadores, coletivos e entidades, inclusive médicos e médicas cearenses, que assinam em apoio.

Áreas de atuação: Cultura