O número de postagens com ameaças a escolas nas redes sociais cresceu em média 360% entre os anos de 2021 e 2025. O levantamento foi divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) a partir do estudo "Aspectos da Violência nas escolas analisados a partir do mundo digital", realizado em parceria com a empresa de monitoramento Timelens.
A pesquisa analisou 1,2 milhão de menções em redes de posts sobre ataques a escolas. No primeiro ano de monitoramento, em 2021, os pesquisadores encontraram uma frequência de cinco conteúdos com ameaças a cada hora. Em 2023, esse número subiu para 12; e, em 2025, chegaram a 23/hora.
Sem a regulação das redes sociais, esses posts não apenas se tornaram mais frequentes como também passaram a circular mais livremente. De acordo com o estudo, os autores de ataques a escolas também estão sendo cada vez mais elogiados em mensagens na internet - e não apenas no ambiente fechado da deep web, mas nos ambientes comuns da vida digital.
Somente nos cinco primeiros meses de 2025, por exemplo, foram monitorados mais de 88 mil menções diretas e ameaçadoras contra alunos, professores e diretores nas redes. Em todo o ano de 2024 esse número foi de 105.192 postagens, enquanto em 2021 foram 43.830 posts. Tal crescimento expõe "a urgência de ações coordenadas para conter essa escalada", alertam os pesquisadores.
Em relação aos ataques ás escolas, o estudo mostra que, entre 2001 e 2018, houve 10 casos no Brasil. A partir de 2019, esse cenário começa a se intensificar e os casos explodem após a pandemia: em 2022, foram 10 casos; e, em 2023, 15. Em todos os casos, os agressores eram homenns, motivados por discursos de ódio e comunidades online de violência extrema.
A pesquisa alerta também para o aumento da violência contra meninas e mulheres no ambiente digital. Os dados mostram que a vitimização por ciberbullying atinge igualmente meninos e meninas (12% em ambos), mas são os meninos que mais praticam ofensas: 17% admitiram ter agido de forma ofensiva no ambiente virtual, ante 12% das meninas.
"O mundo digital não cria o ressentimento, mas lhe oferece vocabulário, validação e audiência. Além disso, quando pais, professores e instituições se ausentam do debate, o algoritmo educa no lugar deles", conclui o estudo.
Em entrevista ao site UOL, Renato Dolci, diretor de dados na Timelens, afirmou que a violência digital tornou-se parte do cenário cotidiano. Para o pesquisador, não se trata de uma tendência, mas de um novo ecossistema em que meninos solitários, hiperconectados e emocionalmente desamparados encontram nas redes sociais um caminho que começa com acolhimento e termina em radicalização.
"Quando o algoritmo substitui o afeto e a escuta, o risco deixa de ser virtual", afirma Dolci. Segundo ele, a violência nas redes ganhou terreno porque encontrou público, linguagem, recompensa e impunidade. "Os jovens não estão apenas consumindo conteúdo - estão formando identidade em espaços que valorizam o exagero e a exclusão". (Texto: Felipe Araújo / Imagem: Marcelo Casal Jr - Agência Brasil)
[+] Confira aqui a íntegra do estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.