A greve dos entregadores de aplicativos e a metamorfose da classe operária

03/07/20 16:16

Os entregadores de aplicativos promoveram uma greve nacional na última quarta-feira, por melhores condições de trabalho, medidas de proteção contra os risco de infecção pelo novo coronavírus e mais transparência na dinâmica de funcionamento dos serviços e das formas de remuneração. A paralisação foi chamada por trabalhadores de empresas como Rappi, Loggi, Ifood, Uber Eats e James.

Os organizadores argumentam que o movimento foi construído por meio da interlocução por grupos na internet, embora algumas entidades tenham se somado, como associações de entregadores e de motofrentistas. Os entregadores cobram o aumento das taxas mínimas recebidas por cada corrida e o valor mínimo por quilômetro. Atualmente, eles são remunerados por corrida e pela distância percorrida, e por isso esses dois indicadores acabam definindo o pagamento por cada entrega.

"Os entregadores e entregadoras de aplicativos são uma das categorias fundamentais para a manutenção dos serviços essenciais no meio da pandemia. Mas são, também, um dos grupos mais explorados pela desregulamentação do trabalho e pela destruição dos direitos trabalhistas", avalia o deputado estadual Renato Roseno (PSOL). "São profissionais que atravessam longas e extenuantes jornadas de trabalho, sem qualquer tipo de proteção social. Sequer podem ficar doentes, pois implicaria morrer de fome; afinal, um trabalhador sem direitos nunca pode parar".

De acordo com o parlamentar, a situação desses profissionais refletem a “uberização” do trabalho e seus efeitos perversos de desregulamentação de direitos. "É um novo processo de globalização do trabalho que se dá a partir de novas formas de organização do capital em todo o mundo, em particular, o capitalismo de plataforma, o ultraneoliberalismo, a precarização brutal dos serviços, a inexistência de redes de amparo previdenciário, entre outros. Por isso, é fundamental manifestar nosso apoio e nossa solidariedade a esses homens e mulheres", defende Renato.

Segundo Renato, o protesto que percorreu ruas em Fortaleza mobilizando um número impressionante de adesões revelou "a metamorfose da classe operária". "Como diria Marx: 'Vós não tem nada a perder a não ser vossos grilhões'", afirmou. (Texto: Felipe Araújo, com informações da Agência Brasil / Foto: Agência Brasil)

Conheça a pauta de reivindicações dos entregadores:

• Aumento do valor por KM rodado

• Aumento do valor mínimo por entrega

• Fim dos bloqueios indevidos de contas de entregadores no aplicativo

• Seguro de vida, roubo e acidentes

• Criação de locais para higienização e recarga de celulares

• Fim da pontuação atribuída ao entregador e restrição de local

• Auxílio Pandemia (com entrega de Equipamentos de Proteção Individual e licença de saúde)

Áreas de atuação: Trabalho, Economia