Agrotóxicos: mulheres agricultoras têm risco 60% maior de desenvolver câncer de mama

07/01/25 11:00

Mulheres agricultoras têm cerca de 60% mais chances de desenvolverem câncer de mama e risco de metástase aumentado em 220% por conta da exposição aos agrotóxicos. Esses são os resultados da pesquisa “Exposure to Pesticides and Breast Cancer in an Agricultural Region in Brazil”, publicada no fim do ano passado na revista "Environmental Science & Technology", uma das três mais importantes do mundo na área de Ciências Ambientais; e na "The Lancet", uma das mais prestigiadas publicações da comunidade médica internacional.

O estudo foi realizado com 758 mulheres que vivem no Sudoeste do Paraná, região marcada pelo uso intensivo de agrotóxicos e que possui uma incidência de diagnósticos da doença 41% superior à taxa média do Brasil, com um índice de mortalidade 14% maior. Essa parte do Paraná também é recordista no volume de comércio de agrotóxicos - cerca de 6 vezes superior à média nacional - e possui uma alta exposição da população devido à lavagem de roupas e utensílios contaminados com agrotóxicos sem de proteção adequada.

Segundo a pesquisadora Carolina Panis, coordenadora do estudo, as amostras de urina destas mulheres apresentaram contaminação por produtos como glifosato, atrazina e ácido diclorofenóxiacético (2,4-D). Também foi identificado que existe um risco 58% maior de desenvolvimento de câncer de mama entre as mulheres agricultoras, quando comparadas às mulheres da área urbana. Além disso, foi documentado um risco duas vezes maior de desenvolvimentos de metástases nas mulheres ocupacionalmente expostas aos agrotóxicos.

Os resultados da pesquisa indicam que as mulheres expostas continuadamente aos agrotóxicos têm um risco aumentado de desenvolver câncer de mama com um perfil mais agressivo. Mas não só isso. Mesmo entre as mulheres que não estão diretamente associadas ao manejo do veneno, há taxas preocupantes de exposição aos agrotóxicos, o que implica na necessidade urgente de políticas públicas voltadas para a prevenção e vigilância destas populações.

“Outra descoberta importante do nosso estudo é que as mulheres que não se envolveram na aplicação de pesticidas podem apresentar níveis significativos de exposição aos agrotóxicos, como foi verificado por nós em em uma subpopulação de mulheres", afirma Carolina em entrevista à revista The Lancet. "Essas descobertas são críticas, pois sublinham a necessidade de direcionamento e monitoramento dos níveis de exposição e intervenções preventivas de saúde nessas populações vulneráveis”, destacou. (Texto: Felipe Araújo / Foto: Marcelo Casal Jr-ABr)

Para saber mais sobre o estudo:

Revista The Lancet - Pesticide exposure and increased risk of breast cancer for women in rural Brazil

Campanha permanente contra os agrotóxicos e pela vida - Pesquisa comprova que exposição ao uso de agrotóxicos causa incidência e risco de metástase em mulheres agricultoras do Sudoeste do Paraná

Mongabay - Agrotóxicos: agricultoras do Paraná têm risco 60% maior de desenvolver câncer de mama

Áreas de atuação: Agrotóxicos, Meio ambiente