PSOL denuncia violência, arbitrariedade e covardia em ação contra militantes do movimento dos sem-teto

27/03/15 20:00

Marcas de tratores sobre o solo e barracos derrubados no terreno onde os sem-teto montaram ocupação em Maracanaú

Grupo de homens encapuzados e armados, usando tratores, realizou por volta das 3h30min desta sexta-feira, 27 de março, um despejo ilegal na Ocupação Bandeira Vermelha, em Maracanaú, na Região Metropolitana de Fortaleza. "Foram disparados dois tiros, um jovem levou uma paulada no braço, um barraco foi derrubado com uma criança de cinco meses dentro. Fizeram muito terror psicológico e estavam com um pit bull dizendo que iam soltar em cima das pessoas", descreve Dillyane Ribeiro, do Coletivo Urucum - Direitos Humanos, Comunicação e Justiça, a partir dos depoimentos obtidos no local.

Para garantir a segurança dos acampados, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) ocupou uma creche não inaugurada nas proximidades - Rua Prefeito Almir Dutra com Rua Ipês - Pajuçara. As pessoas que sofreram agressões se dirigiram a uma delegacia para registrar Boletim de Ocorrência, na companhia de integrantes dos mandatos do deputado estadual Renato Roseno e do vereador de Fortaleza João Alfredo, os dois do PSOL.

O deputado chegou ao local por volta das 6 horas. Como não havia viatura policial, ele tentou acionar a Polícia Militar, conseguindo mobilizar cinco carros. O parlamentar manteve contato com a Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops) e falou com dois coronéis e um major da PM. A Polícia atendeu a demanda do deputado, deslocando-se ao terreno e fazendo vistorias em ambos os lados

"É preciso proteger as lideranças, garantir as moradias e buscar a responsabilização dos agressores", defende o deputado, que está encaminhando um ofício, em caráter de urgência, para a Prefeitura de Maracanaú, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social, a Secretaria das Cidades e o Ministério Público, solicitando medidas protetivas para os manifestantes.

Na última quarta-feira, dia 25, Renato participou de ato em apoio ao movimento. Na ocasião, um representante da Prefeitura de Maracanaú assumiu o compromisso de garantir a segurança dos acampados contra a possibilidade de um despejo ilegal. Além do deputado, o ato contou com representantes do mandato do vereador João Alfredo, do Partido Comunista Brasileiro (PCB), do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN) e das correntes sindicais Unidade Classista e Intersindical.

No dia anterior, a Ocupação Bandeira Vermelha realizou manifestação reunindo cerca de 400 famílias no Centro de Maracanaú. No dia 18 de março, Renato Roseno já havia participado de reunião com o secretário das Cidades, Ivo Gomes, e representantes do MTST, Unidade Classista e Rua Juventude Anticapitalista, para tratar de reivindicações, como a construção de unidades habitacionais,a criação de um plano estadual de assistência estudantil e da meia passagem de ônibus intermunicipal.

A criação de um Comitê de Mediação de Conflitos Fundiários Urbanos foi outro ponto de pauta na reunião com o secretário das Cidades. A proposta também foi apresentada pelo deputado Renato Roseno em forma de um projeto de indicação na Assembleia Legislativa. No plenário da Casa, nesta sexta-feira, o parlamentar manifestou indignação pelo que considerou violência e covardia contra os militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto. "Mais do que um despejo ilegal, houve um ato violento e covarde contra pobres, em nome da riqueza e da propriedade", denunciou, referindo-se aos casos de lesão corporal, disparo de tiros e destruição de barracos.

O deputado manifestou estranhamento com a presença arbitrária de seguranças privados na ocupação, uma vez que as negociações avançavam, após contatos mantidos também com o líder político na cidade, o ex-prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa. Renato Roseno alertou que, se acontecer mais algum episódio de violência contra os manifestantes, a Assembleia Legislativa também terá responsabilidade, já que o movimento dos sem-teto procurou o Legislativo para pedir proteção. "A ocupação é legítima porque os sem-teto estão há muito tempo reivindicando o direito à moradia. Quem tem título bom vai para o Judiciário, não fica contratando segurança privada para, às 3 horas da madrugada, usando pitbull, tirar mulher, criança e trabalhador de onde estão", rechaçou.

Renato Roseno citou outro caso de luta pela moradia como exemplo da crise urbana no Ceará e no Brasil. Em Tauá, no Sertão dos Inhamuns, cerca de 300 famílias, algumas delas há 20 anos reivindicando o direito a um teto, resolveram ocupar um terreno destinado à segunda e à terceira etapas de um residencial. "As pessoas estão cansadas de promessas, muitas vezes promessas eleitorais", concluiu, informando que também estará encaminhando ofício à Prefeitura de Tauá solicitando providências. "A ausência da moradia é uma questão social, resultado da pobreza gigantesca que ainda assola o Ceará. Não ter teto é desesperador".

Áreas de atuação: Justiça, Moradia, Segurança pública